Cozinhas de Terreiro

Transformando alimentos, vidas e comunidades: Acreditamos no poder da comida como ferramenta de transformação social. Conheça mais sobre a nossa história e propósito!

O que são as Cozinha de Terreiro?

As cozinhas solidárias presentes nos terreiros de religiões de matriz africana são muito mais do que ações de combate à fome, são manifestações vivas de cuidado coletivo, ancestralidade e resistência. Nesses espaços sagrados, onde a espiritualidade caminha lado a lado com a comunidade, alimentar o outro é também um gesto de axé, de partilha e de conexão com forças que sustentam a vida.
Além disso, essas cozinhas enfrentam um desafio silencioso: o racismo alimentar, que marginaliza e desvaloriza saberes, ingredientes e práticas culinárias negras, relegando-os a estereótipos ou invisibilidade. Ao abrir suas portas e partilhar seus saberes, as cozinhas de terreiro não apenas alimentam, elas quebram preconceitos, recontam histórias e afirmam o valor de uma cultura que resiste há séculos. Historicamente dedicados à proteção e ao bem-estar de seus povos, os terreiros também se estabelecem como refúgios de solidariedade ativa. Em momentos de crise social, econômica ou sanitária, organizam-se para garantir alimento, acolhimento e dignidade a todos, sem distinção. Essa prática traduz a resistência de um povo que, apesar das tentativas de apagamento, transforma cada panela no fogo em um ato de existência, cada refeição em um manifesto contra a fome e a exclusão.


Instituto Cultural ÁGUAS DO AMANHÃ

O projeto Águas do Amanhã, idealizado pelo Instituto Cultural que leva o mesmo nome, nasce no coração do terreiro como um movimento de resistência, memória e construção do futuro. Em sua essência, ele une espiritualidade, ancestralidade e ação concreta, reafirmando que a comida é um elo entre o sagrado, o território e o coletivo. Com sede em Sepetiba (RJ), o projeto transforma cozinhas de terreiro em centros de fortalecimento comunitário. Ali, preparar alimentos é também educar, cuidar e resistir. O projeto atua de forma integrada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, mas a partir de uma perspectiva própria: a dos povos de axé, onde os orixás são referências de prosperidade, cura, justiça e caminhos possíveis. Essa conexão com a Cozinha Solidária se dá pela prática cotidiana da partilha: servir é mais que oferecer um prato, é afirmar o direito à vida com dignidade. Por isso, as ações do Águas do Amanhã vão muito além da alimentação. Elas resgatam saberes culinários ancestrais, reaproveitam integralmente os alimentos, ajudam mulheres, promovem saúde com plantas medicinais e organizam oficinas formativas com foco na autonomia e no pertencimento.
O instituto vai além, ele tem compromisso com mulheres negras, crianças, produções sustentáveis.


📸 MEMÓRIAS DE RESISTÊNCIA


DIFERENÇA DAS NAÇÕES

Os terreiros de religiões de matriz africana são espaços sagrados onde diferentes tradições, chamadas de nações, mantêm vivos os cultos aos orixás, inquices, voduns e encantados. Divindades ancestrais que atravessaram o Atlântico com os povos africanos escravizados e se enraizaram profundamente no Brasil. Cada nação carrega origens, línguas, rituais e modos de organização próprios. A Nação Ketu, por exemplo, tem raízes iorubás e cultua os orixás, com forte presença na Bahia e em outras regiões do país. Seus ritos são marcados por cânticos em iorubá, uso de atabaques e uma organização litúrgica bastante difundida no Candomblé. Já os terreiros de nação Angola remetem aos povos bantu e cultuam os inquices, com cânticos em kimbundu ou quicongo e uma musicalidade mais cadenciada. Seus rituais têm um ritmo diferente, com danças que expressam forte ligação com a terra e os ciclos da natureza. A Nação Jeje, por sua vez, tem origem entre os povos fon e ewe, cultuando os voduns. Seus rituais trazem uma estética própria, com cantos em fon e uma relação simbólica muito rica com o panteão de divindades que rege os elementos da vida. Mesmo com essas diferenças, o que une todas as nações é o respeito às ancestralidades, o compromisso com a espiritualidade e o acolhimento à comunidade. Cada terreiro, com sua tradição única, é um centro de força, cultura e resistência.


AJEUM – COMER JUNTO

AJEUM – COMER JUNTO Nas religiões de matriz africana, ajeum é mais do que uma refeição,é um ritual de partilha, onde se oferece alimento aos orixás e se nutre, juntos, corpo e espírito. Comer em comunhão é um gesto de fé, gratidão e pertencimento. É nesse encontro à mesa que a ancestralidade se fortalece e os laços da comunidade se renovam. Inspiradas por esse princípio sagrado, as Cozinhas Solidárias de terreiro seguem resistindo onde a fome se impõe. Em meio à pandemia, ao desemprego e à desigualdade, elas brotam nos territórios mais vulnerabilizados,oferecendo comida, cuidado e dignidade. Com criatividade e consciência ambiental, essas cozinhas aproveitam cada parte dos alimentos — talos, cascas, folhas, sementes — para compor refeições nutritivas e acolhedoras. Esses alimentos são distribuídos gratuitamente por mãos voluntárias que cozinham não só com técnica, mas com afeto e muito axé. Mais do que fornecer alimento, cada cozinha se transforma em espaço coletivo de educação nutricional, geração de renda e valorização do saber popular. Ali, moradores, lideranças e voluntários se encontram para trocar experiências, cultivar autonomia e alimentar a esperança. Essa corrente solidária afirma o direito à alimentação como pilar da dignidade humana. Engaje-se, compartilhe, fortaleça. Porque a solidariedade também serve à mesa.


O QUE SÃO ITANS?

Nesta aba, abrimos espaço para contar itans — histórias sagradas que atravessam gerações, preservadas na oralidade dos terreiros, onde a comida nunca é apenas comida. Cada ingrediente, cada preparo, cada ritual à mesa carrega um sentido profundo, um ensinamento, um elo com o divino. Nos itans das religiões de matriz africana, o alimento aparece como oferenda, pacto, sabedoria e transformação. É com farinha, azeite, inhame, milho, dendê e tantos outros elementos da terra que os orixás, inquices e voduns se comunicam com os humanos, ensinam caminhos e sustentam a vida. Aqui, você vai encontrar narrativas que mostram como o ato de cozinhar e comer também é espiritual. São histórias que fortalecem a ancestralidade, honram a natureza e ensinam que partilhar o alimento é, antes de tudo, partilhar o axé.


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